O Presidente da Câmara Municipal de Cascais concede uma entrevista em que aborda o combate à pandemia do coronavírus. Carlos Carreiras emite um alerta para a necessidade da população manter a resiliência por causa dos problemas económicos e sociais que vão atingir o concelho.
Qual é o balanço que faz do combate à pandemia?
Após vários meses desde o início da crise sanitária não é tempo de fazer balanços, mas para continuar o combate. Neste momento, temos um crescimento muito pequeno no número de infectados por dia, sendo que, também existem mais recuperados, o que diminui os casos activos. O desenvolvimento das políticas que permitem o controlo da transmissão só pode ser feito através do número de pessoas que ainda estão infectadas com o vírus. No entanto, estamos a enfrentar uma pandemia económica e social.
Quais são os desafios que existem nos próximos meses?
Temos de estar preparados para enfrentar uma situação que ainda é desconhecida pelos cientistas. Os agentes económicos não sabem como responder à crise social, embora seja possível aprender com o que aconteceu no início da década. É preciso manter a resiliência para evitar um novo aumento do número de casos. Tem sido o combate que origina mais trabalho na procura das respostas.
Como analisa a situação epidemiológica em Cascais?
Em termos de pessoas recuperadas a taxa é muito superior aos restantes concelhos, o que se traduz numa diminuição dos casos activos. A realização de testes também permite descobrir mais pessoas infectadas com o vírus. Cascais é a única autarquia do país e da Europa que está a testar toda a população. Há factores que dependem da forma como se comportam as autoridades nacionais, embora haja uma percentagem da responsabilidade que pertence às Câmaras Municipais. O governo português e a Organização Mundial de Saúde não tiveram uma comunicação eficaz porque as indicações foram pouco coerentes.
Qual é a prioridade das autoridades locais para evitar a transmissão do vírus?
A realização de testes à população, nomeadamente em quarenta bairros do concelho, serve para percebermos quais são as zonas que tiveram a maior incidência de contacto com o vírus para definir uma estratégia de resposta aos problemas económicos e sociais. Nestes locais tem sido distribuída alimentação, máscaras, bem como alguma informação relevante sobre a forma de actuar em caso de contágio. Por outro lado, visa dar uma sensação de segurança às pessoas.
Quais são os bons e maus exemplos no combate à pandemia em termos globais?
A China foi um exemplo positivo, mesmo tendo sido necessário violar a liberdade dos cidadãos para impor as medidas. Em termos negativos destaque para a Inglaterra, os Estados Unidos e o Brasil.
Que tipo de impacto económico já provocou as medidas de confinamento?
A taxa do desemprego cresceu, mas continua a ser inferior aos números verificados em termos nacionais. Há uma perda do rendimento maior do que o normal, mas a quebra do consumo não foi muito significativa.
Qual é o principal factor que vai ajudar na recuperação económica?
O plano apresentado pelo professor António Costa Silva tem uma grande vantagem porque coloca em cima da mesa a discussão sobre o modelo económico e as funções do Estado. O governo vai ter problemas porque o conjunto das reformas que terão de ser adoptadas precisam do apoio do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista Português.
A pandemia acelerou o processo de transformação digital?
A revolução digital tem sido uma das apostas do concelho de Cascais, como se percebe pela assinatura de vários acordos colectivos com as principais centrais sindicais do país em que previa-se o teletrabalho, mas dependendo da vontade do trabalhador e da Câmara Municipal. No entanto, nos últimos cinco anos houve poucas pessoas que beneficiaram do novo regime. Actualmente, existe mais conhecimento e inteligência para o desenvolvimento das novas ferramentas. A utilização da tecnologia, nomeadamente em relação às smart cities, tem de ser feita a favor dos cidadãos.
Deveria haver mais competência das autarquias locais?
Existem áreas que devem ficar na esfera do Estado, como a segurança pública e militar, mas aquelas que permitem uma maior aproximação aos cidadãos podem ser transferidas para as autarquias. A capacidade de resposta à pandemia mostrou a necessidade da saúde ser uma competência local. Haverá sempre uma dependência do poder local face ao governo central, mas é necessário que se cumpra a lei das finanças locais e a descentralização seja feita ao nível do que acontece na Europa.
Teme que a resposta à crise possa ter efeitos nas próximas eleições autárquicas?
O combate à pandemia reforçou a minha liderança como Presidente da Câmara Municipal de Cascais.