A obrigatoriedade do voto esteve em cima da mesa num painel composto pelos docentes Jorge Pereira da Silva, Catarina Santos Botelho, Mariana Lopes da Fonseca e Andreia Sofia Pinto Oliveira. No entanto, também foram apresentadas algumas soluções para diminuir a abstenção no nosso país, que não estão relacionadas com a aplicação de sanções aos cidadãos que ficam em casa nas eleições.
Os investigadores foram unânimes em considerarem o voto como um direito e nunca um dever. O professor auxiliar da Universidade Católica de Lisboa, Jorge Pereira da Silva, considera que “o direito de voto compreende o direito de não votar”. O docente também explica que “o voto obrigatório não é compatível com os princípios defendidos pela Constituição da República Portuguesa”. A docente da mesma instituição universitária, Catarina Santos Botelho tem a mesma opinião porque “o exercício do voto é uma autodeterminação do indivíduo”.
Num plano diferente surgem as opiniões de Mariana Lopes da Fonseca e Andreia Sofia Pinto Oliveira. A investigadora do Max Planck Institute, adopta um discurso politicamente correcto porque entende que “é necessário haver um apelo cívico de votar”. A posição favorável à mudança de mentalidade através da legislação pertence a Andreia Sofia Pinto Oliveira. A professora da Universidade do Minho garante que “o voto é um dever, mas não devem haver sanções”.
Os oradores apresentaram várias propostas para diminuir o desinteresse das pessoas pelo fenómeno político. Neste aspecto, o docente apresentou a solução do duplo voto, que “consiste na atribuição de dois votos aos eleitores para escolherem os partidos através do candidato a Primeiro-Ministro e o deputado que pretendem para os representarem na Assembleia da República”. Contudo, a ideia também não agrada aos aparelhos partidários porque “uma pessoa pode votar no partido para uma situação e no candidato a deputado para outra totalmente diferente”. Na opinião de Jorge Pereira da Silva, “a identificação entre os deputados e os eleitores é o elemento mais importante para existir uma valorização do sistema eleitoral português”, que também enaltece a forma como “não existe desconfiança relativamente aos resultados”. A medida de Mariana Lopes da Fonseca dos eleitores “terem uma opção no boletim de voto para mostrarem o desagrado face às escolhas” não garante maior proporcionalidade, mas aumenta “a motivação na hora do voto”. A investigadora também realça “a importância dos independentes poderem candidatar-se nas eleições legislativas”.
Os números dos votos em branco nem sempre merecem uma análise por parte dos especialistas em Portugal, pelo que, o entendimento de Andreia Sofia Pinto Oliveira relativamente “à utilidade do voto em branco para mostrar o descontentamento face ao sistema” não pode ser encarado como uma preocupação.